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Proteção contra a Luz Azul e Saúde Visual — Salgado Borges

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A exposição à tecnologia digital foi um movimento ascendente nos últimos anos e o impacto do atual surto epidemiológico só veio reforçar ainda mais esta realidade.
POR: Prof. Doutor SALGADO-BORGES, CLINSBORGES – CLÍNICA OFTALMOLÓGICA DO PORTO

No compasso dos avanços tecnológicos da era digital, os cuidados oftalmológicos são cada vez mais prementes na proteção da saúde ocular. A geração de nativos digitais enfrenta hoje um dos maiores problemas de saúde pública: a dependência tecnológica. A exposição aos ecrãs começa cada vez mais cedo e por períodos mais prolongados. A alteração de comportamentos motiva a que, a cada dia, uma nova proporção da população mundial seja afetada pelo drástico aumento de exposição à luz azul artificial, tanto de díodos emissores de luz branco-fria (LEDs) como de fontes de luz fluorescente.

Este panorama é de tal forma alarmante que a tecnologia chega mesmo a invadir o tempo das refeições, do sono, do estudo e, sobretudo, do convívio familiar. As principais vítimas são os mais jovens, que já passam muitas vezes mais de 3 horas diárias em frente aos grandes ecrãs ou tablets, muitas vezes sem controlo dos pais.

Num espaço de uma única geração, a exposição aos ecrãs, antes restringida à televisão, é superada agora horas a fio, quer no contexto profissional, quer no académico, com o ensino à distância. É por isso vital descortinar o lado negro da tecnologia: a luz azul-violeta perturbadora e nociva emitida pelos grandes ecrãs e pequenos como o telemóvel aos quais estamos constantemente expostos no quotidiano.

O estudo do olho humano é fascinante. É o único órgão do corpo humano que evoluiu de forma a permitir que a radiação penetre e o atinja profundamente. A penetração da radiação luminosa é o primeiro grande paradoxo: a radiação é um perigo biológico, mas a luz não deixa de ser um componente importante no âmbito da acuidade visual e essencial para a perceção das cores.

A nocividade da luz está relacionada com os comprimentos de onda mais energéticos do espetro luminoso capazes de atingir os tecidos internos oculares. Enquanto os UV (A, B e C) abaixo dos 400 nm são retidos na sua totalidade pela córnea e cristalino, a luz azul-violeta tem a capacidade de atingir a retina.

A luz azul localiza-se no início do espetro visível e inclui as radiações azul-violeta nocivas (comprimento de onda mais curto, 415-455 nm) e, a azul-turquesa benéfica (comprimento de onda mais longo, 465-495 nm) envolvidas no normal funcionamento metabólico (ritmos circadianos e atividade endócrina efetiva). As fontes de luz azul atacam em várias frentes: embora de forma indireta o sol seja a principal fonte de luz azul, os espaços interiores são agora, de forma direta, uma ameaça — luzes LED (35%), aparelhos digitais e lâmpadas fluorescentes.

Antes do confinamento, uma percentagem significativa da população já passava a esmagadora maioria do dia em espaços interiores. Os últimos seis meses, por força da pandemia, a magnitude do problema intensificou-se.

Os LEDs contam com elevadas emissões espectrais no azul e em níveis que merecem a devida atenção sobre exposições cumulativas durante a vida humana. A interação excessiva da luz azul nociva com as células da retina pode conduzir à morte dos fotorrecetores e, mesmo que o nosso organismo tenha bons mecanismos de defesa, vai perdendo gradualmente capacidade para o fazer. A luz ultravioleta e a luz azul-violeta são, neste contexto, culpadas pelo fotoenvelhecimento da pele e ocular. Com o envelhecimento, a acumulação de lipofuscina na membrana de Bruch pode induzir à formação de drusas identificadas como fatores de alto risco para a degenerescência macular ligada à idade (DMI).

Daí a necessidade de alertar sobre os riscos biológicos da exposição à luz azul nociva para minimizar os potenciais danos à saúde visual. É assim crucial sensibilizar também a população para a importância de se limitar a exposição a essas radiações antes que seja tarde demais.

Os carateres ponteados apresentados pelos ecrãs são cada vez mais pequenos e a distâncias muito curtas. Ao focarmos os ecrãs, a luz atinge diretamente a mácula. Embora a energia seja muitíssimo inferior à emitida pelo sol, o período de exposição é muito mais longo, sendo este um dos maiores desafios atuais enfrentados pela Oftalmologia. Outra problemática que afeta a exposição é a crescente visualização noturna dos ecrãs e a intensidade da iluminação LED, com elevado potencial de danos à retina.

 

Uma vez que a luz turquesa na iluminação LED é muito mais fraca, o reflexo da pupila é afetado, contribuindo para que esta se dilate em maior extensão, tornando assim a luz azul-violeta potencialmente mais prejudicial ao olho. Para agravar ainda mais o cenário, está o facto de o espetro de exposição ser dinâmico, diferindo substancialmente com a idade, ambientes pessoais e profissionais, estando ainda a par dos desenvolvimentos tecnológicos contínuos. Com efeito, cada individuo apresenta um perfil de risco personalizado.

Não obstante a falta de dados clínicos formais que explorem a exposição à luz azul, sabe-se que no grupo de risco estão as crianças, doentes operados com cataratas, com histórico de DMI, doentes com pele clara e iris hipopigmentada, a retinopatia diabética e o glaucoma. A necessidade de proteção contra UV tem sido apoiada em diversos estudos e acredita-se que esteja associada a danos no segmento anterior do olho, nomeadamente o cristalino.

Os pacientes com perfil genético de alto risco devem considerar fortemente o recurso às lentes oftálmicas, que filtram a luz azul nociva, permitindo a passagem de luz azul essencial. Estes filtros beneficiam a acuidade visual e a sensibilidade ao contraste, o que acaba por reduzir a fadiga visual. Por outro lado, a proteção com soluções não invasivas compreende a adoção de hábitos saudáveis e a proteção solar para evitar a exposição a altos níveis de radiação (altitude, reflexo da água e neve) associado ao uso de óculos escuros e viseiras. A adoção de hábitos de saúde pressupõe ainda o parar de fumar e a implementação de uma dieta saudável, rica em antioxidantes.

A regra dos 20-20-20 também se aplica. Ao fim de 20 minutos em frente a um ecrã, deve parar 20 segundos, focar um objeto a 6 metros (20 pés) e pestanejar. Mesmo com a eficácia destas soluções, o contexto atual marcado pelo aumento da exposição à luz azul artificial reforça a necessidade urgente de pesquisas científicas e clínicas relevantes a curto prazo. Os poucos relatórios disponíveis sobre esta temática restringem-se quase exclusivamente a estudos epidemiológicos.

A missão, daqui em diante, será educar os profissionais de saúde ocular e a população acerca dos potenciais perigos da exposição crónica à luz azul e do desenvolvimento contínuo da tecnologia de filtragem da mesma. Acredito que, deste modo, será possível continuar a pautar os serviços de oftalmologia com rigor e excelência a todos os níveis.

 

 

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